
Foto: Sandra Ramos
Vamos partir do seguinte princípio...
A diferença crucial entre gastar e investir está no retorno que se obtém (ou não).
Pressupondo que se segue o princípio do investir, o retorno consequente pode assumir a forma financeira ou a de inúmeras outras possíveis mais-valias.
Focando o mercado das bandas independentes, e tendo em conta que neste contexto o retorno financeiro, por norma, é de ir às lágrimas (ou de morrer a rir), resta aos artistas nacionais gerirem da melhor forma possível a sua exposição pública.
Em cada vez que surge uma oportunidade para promover o seu trabalho, o artista/banda independente sabe que não pode falhar... sabe que tem que fazer passar para o grande público o resultado das muitas horas, dias,semanas, meses e anos de trabalho árduo na sala de ensaios, no estúdio e sabe-se lá onde mais.
Ora até aqui tudo muito bem... mas e se nessas poucas oportunidades de promoção as condições técnicas forem tão más que se torna impossível demonstrar esse trabalho ??
Se vos pedirem para mostrar o quanto são bons fotógrafos, dando-vos para isso uma máquina fotográfica cuja lente está estragada, aposto que rapidamente vocês concluem que sem ovos é difícil fazer omeletes.
Agora imaginem que são músicos... e que têm como objectivo mostrar a qualidade do voso trabalho ao público de um canal televisivo... e que têm de fazer isso sem ouvir quase nada do que vocês próprios estão a tocar... mais uma vez, não há omelete que resista !!
Mas vamos ser flexíveis !!... Vamos partir do princípio que todas as horas, dias, semanas, meses e anos de ensaios dão os seus frutos e dá-se o milagre de, mesmo sem ovos, aparecer na mesa a dita omelete.
...Menos mau !!... Mas infelizmente nem assim chega... Após toda esta aventura, e chegado o momento de degustar a dita iguaria, com as papilas gustativas ansiosas por sorver a recompensa de tão árdua façanha, eis que nos é servida uma omelete suja, pisada, cheia de lixo... intragável !!
Quando os Cruzumana decidiram participar no concurso "Bandas de Garagem" da Sms Tv, fizeram-no com um único objectivo... promover-se junto de um público que ainda, na sua maioria, não conhecia o nosso trabalho.
Embora as condições técnicas com que nos deparámos na primeira gravação feita para o programa não fossem as ideais, digamos que eram as suficientes.
Para grande surpresa nossa fomos uma das bandas mais votadas pelo público do programa, o que nos deu uma nova oportunidade de promoção, visto termos passado às semi-finais do dito concurso.
Na segunda gravação que fomos fazer, já como semi-finalistas, as condições técnicas foram deploráveis... foi literalmente tocar e cantar sem nada ouvir !
Mas enfim, para alguma coisa servem os ensaios constantes.
Os Cruzumana saíram da gravação conscientes que tinham feito o melhor possível dentro das condições que lhes foram proporcionadas.
Quando dei conta que a nossa sessão gravada tinha começado a passar na Sms Tv sem que tivéssemos conhecimento disso, estranhei !...
...Não posso aceitar de bom grado que uma banda semi-finalista de um concurso organizado por um canal de televisão não faça a mínima idéia de quando vai para o ar o(s) programa(s) onde o seu trabalho se encontra exposto.
Mas o portugueses são conhecidos pela sua calma e compreensão e quem sou eu para fugir à regra ?
Rapidamente tentei interiorizar que devia compreender as prioridades da TV Cabo na gestão dos seus canais e consequentemente ultrapassei a minha indignação... até ver pelos meus olhos a dita sessão da semi-final que tínhamos gravado.
Embora no som do primeiro tema (de novo a cover dos Madredeus) não se percebesse o nosso trabalho de guitarras, foi no segundo tema (o nosso original "Errante") que eu entrei em choque... De alguma forma que me custa a compreender, o som que passou para o "Master"(a mistura final que é apresentada ao público) só tinha o som da via de efeitos e nada do som directo captado na dita sessão... por outras palavras, imaginem que estão a dar gritos num grande desfiladeiro mas que só ouvem os ecos que retornam e não o som directo da vossa própria voz... bizarro, não acham ??
E agora o meu dilema é simples... no investimento promocional que os Cruzumana fizeram ao participar neste concurso, qual é que será o retorno?
Se por um lado demos a conhecer o nosso trabalho a muita gente, por outro lado podemos ter ficado seriamente prejudicados pela associação feita entre a banda e aquele som horrível !!
...Esperemos que a generalidade do público saiba distinguir entre o trabalho da banda e o trabalho da equipa técnica ao serviço da produção do programa.
Por mim, é voltar ao trabalho e prosseguir viagem .
Melhores dias virão ;-)